OS TRÊS MOSQUETEIROS I - D’ARTAGNAN
Nacionalidade: França
Direção: Martins Bourboulon
Gênero:Drama Histórico
Lançamento: 2024
Elenco: François Civil, Vincent Cassel, Romain Duris
Depois de assistir o primeiro filme, que também resenhei aqui no blog , segui para assistir a continuação da produção mais recente francesa nos cinemas de "Os Três Mosqueteiros", dessa vez, prometendo focar na personagem e vilã Milady de Winter, a espiã do cardeal Richelieu e antigo amor de Athos. Bem, vamos aos pontos de acertos e erros sobre essa narrativa.
Primeiro, o bom e velho contexto histórico, que me surpreendeu positivamente, já que houve um trabalho mais minucioso para explicar ao público o que levou ao Cerco de la Rochelle, um combate marcante no primeiro livro da saga de Alexandre Dumas, sendo o ponto alto das amizade dos quatro amigos e mosqueteiros. As cenas de batalha e combate deste confronto motivado tanto por política quanto por questões religiosas - os católicos e os huguenotes, como eram chamados os protestantes franceses - são primorosas, e até mesmo permite a interpretação de como eram essas batalhas que chamavam regimentos inteiros das mais diversas guardas que serviam ao rei.
(Richelieu comandando o Cerco de la Rochelle, 1881)
O que também me chamou a atenção foi como a imagem de Richelieu é exposta não mais como um vilão dos mosqueteiros ou um concorrente de poder do rei, mas alguém disposto a proteger sua majestade, pois reconhece que sua influência provêm da coroa, então, se ela cair, ele caía junto. De fato, a figura imponente do cardeal toma nuances próprias do que na obra original, mas positivas, o aproximando de sua realidade e não apenas algo vilanesco.
Bom, agora sobre nosso quarteto principal:
Inicialmente, Porthos e Aramis se tornam personagens secundários, mas conforme o combate avança, ambos ganham mais destaque, especialmente Aramis, que atua para salvar o capitão Monsieur de Treville.
Já Athos tem maior presença por conta de sua relação com Milady, e a história de ambos é desenvolvida mais a fundo. Entretanto, senti o personagem um pouco prejudicado por ressaltar sua idade. Já falei sobre a questão etária dos personagens no filme, mas neste a questão ficou mais gritante para Athos, e me entristeceu.
Outro ponto aqui é sobre a família de Athos e Milady, o filho deles, em especial: bom, no livro ele não existe. Milady tem sim um filho, mas não com Athos - Mordaunt, que aparece na obra "20 Anos Depois". Já o mosqueteiro também tem um filho, mas não com Milady, e sim com uma nobre - este é Raoul, o futuro visconde de Bragellone. Erraram feio na árvore genealógica.
D'Artagnan se apresenta como um jovem apaixonado que corre atrás de sua amada raptada, e a perde no final. Bem, parece um pouco romanesco demais, mas é exatamente assim no livro, e eu aprovo! Pois todos os demais filmes colocam D'Artagnan como vencedor e com um final feliz com Constance. Porém no livro, ela não sobrevive, e acredito ser essencial tal fato para moldar o perfil do gascão que se tornaria futuramente uma figura relevante dentro dos mosqueteiros. Ele precisava amadurecer, e essa perda faz justamente isso.
Quanto a própria Milady, foi interessante a premissa de explicar seu passado, porém não a executaram bem: não mencionaram o casamento anterior a Athos, seu cunhado e carrasco, o motivo de sua marcação ficou vago. Entendi que quiseram aliviar o tom de vilã de Milady e quiseram justificar sua personalidade. Odiei sinceramente pois não entenderam quem de fato é Milady para Dumas: Ela pode ser uma Femme Fatale da literatura francesa, pois ao mesmo tempo que assassina, seduz; é perigosa e envolvente. Não é uma personagem para se ter pena, nem para ter seus motivos justificados. Ela só é, e ponto!
Então, minha conclusão sobre a continuação que, inclusive ficou com o final aberto - o que me deixou em dúvida se esse será o último filme, ou se ganharemos uma adaptação de "Vinte Anos Depois" - é que o trabalho foi primoroso. A pesquisa para construir algo mais real e menos ficcional foi bem-feita. Porém, se pecou em alguns pontos dos personagens, especialmente Milady, que ganhou destaque em excesso para atender ao público atual.
Ainda assim, recomendo a produção que, de longe, ainda é mais fiel que as anteriores, e mantêm o tom francês sobre a obra da Dumas (inclusive, curiosamente um mosqueteiro negro aparece representando o autor de "Os Três Mosqueteiros").
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