OS TRÊS MOSQUETEIROS I - D’ARTAGNAN
Nacionalidade: França
Direção: Martins Bourboulon
Gênero:Drama Histórico
Lançamento: 2023
Elenco: François Civil, Vincent Cassel, Romain Duris
Quem me conhece sabe que a saga literária "Os Três Mosqueteiros", de Alexandre Dumas, é a minha favorita de todas! É um clássico que me conquistou, e me fez lê-la completa em português e, posteriormente, em francês, quando dominei o idioma (trouxe os exemplares em 2017, após comprar em Paris antes das traduções mais recentes serem lançadas no Brasil). Por conta disso, também já assisti a maioria das adaptações da história - as boas, as razoáveis, as ruins, e as imperdoáveis.
Bem, vocês podem imaginar que quando anunciaram um novo filme, e de produção francesa, minha empolgação foi a mil! Tanto é que fui ao cinema um dia depois da estréia nos cinemas brasileiros (20/04).
Depois de ver o trailer, eu esperava alguns acertos e outros erros, talvez os mesmos de sempre, mas resolvi arriscar, pois não era possível que os franceses errassem tanto em uma história deles! Além disso, a obra será divida em duas partes (uma duologia). Então, teria mais tempo de cena para contar a história. E também amo o primor das produções francesas em questão de fotografia e figurino. Mas, enfim, vamos às impressões:
Quanto ao contexto histórico, fiquei bem satisfeita que foi acertado. Temos os personagens reais bem representados - Luís XIII, Ana da Áustria e Richelieu -, e as questões políticas, como os conflitos entre católicos e protestantes (huguenotes), relação França e Inglaterra e o domínio do cardeal Richelieu. Também aprovei os cenários reais serem utilizados de forma correta (Versalhes não apareceu, felizmente, como no filme de 2011, sendo um erro GROTESCO). Temos o Louvre, temos a costa inglesa, as ruas de Paris, tudo como deveria ser.
Os figurinos masculinos deram algumas derrapadas (cabelo curto não era moda na época, por exemplo, nem algumas casacas utilizadas), e senti falta do uniforme clássico azul dos mosqueteiros, que sim, existiram. Pelo menos os mosquetes e as rapieiras estavam de acordo, bem como os vestidos e penteados femininos.
Também me deixou feliz que alguns personagens fictícios secundários, como Constance Bonacieux e Rochefort, foram representados de acordo com o livro. Constance, com sua simplicidade, mas importância (bem como nome correto, que algumas vezes é trocado), e uma paixão inicial por D'artagnan, como deveria ser. E Rochefort ainda de forma misteriosa, mas causando os primeiros problemas para o gascão em Paris. Entretanto, Milady, uma figura importante, está ainda confusa nesse primeiro filme, bem como sua aparência meio "vitoriana" (errado), sombria, morena, e ainda usuária de tabaco (cachimbo), que QUÊ?! Mas teremos um segundo filme voltado só para ela, então esperemos uma melhora, pois Eva Green é uma atriz excepcional.
Já os quatro personagens principais... vou comentar cada um:
D'artagnan é um personagem principal, mas consideravelmente fácil de fazer quando jovem de 18 anos, pois ele é corajoso, impetuoso e rebelde, além de um rostinho bonito. Não exige complexidade. Considero que ele se aprimora nos livros seguintes. O ator François Civil fez bem o papel, e trouxe o tom irônico e sarcástico do gascão muito bem, além da beleza e juventude que pede, de forma adequada na época.
Athos já é outra história. Sendo o mais velho dos três (mas com menos de 30 anos), tem uma honra e lealdade invejáveis ao rei e à França, além de ser um excelente esgrimista e intelectual. É mais complexo por conta de ser o líder do grupo, e concordo que exige um ator mais experiente. Mas não recomendaria Vincent Cassel, com seus 56 anos. Esse erro de idade me incomoda horrores, pois o trio não era de idosos. Cassel é um bom ator, mas envelheceu um personagem maravilhoso que se diferencia por suas características de caráter tão bem definidas em tenra idade. Além disso, Athos não eram protestante, como traz no filme, e não se meteria na intriga deste ponto.
Porthos foi o que mais estranhei a reinterpretação. Feito por Pio Marmaï, o personagem tinha tudo para ser bom e igual ao livro (o ator carrega a estética de Porthos), mas fizeram alterações que mal-interpretaram a questão de fanfarrão do personagem. Porthos gostava de viver a vida, bebendo e comendo, e amando mulheres, e isso é bem explicado no livro. Ainda fico com a versão de Gérard Depardieu. E apesar de ser o ator com a idade mais próxima da correta do personagem, ainda assim é mais velho, e não carrega a imaturidade jovial de Porthos neste momento da história.
Aramis, por outro lado, foi o que mais amei, e seguiu lindamente o caráter do personagem. O ator Romain Duris trouxe os dois lados - o padre e o mosqueteiro - de Aramis, além da perspicácia e superioridade. Aramis é um personagem tão complexo quanto Athos, por sua personalidade às vezes questionável, mas ainda assim com princípios próprios, e temos momentos que ressaltam essa percepção durante o filme. Ele seria mais perfeito se a idade, mais uma vez, não atrapalhasse.
*A idade de Athos, Porthos e Aramis é entre 24 e 28 anos, e não acima de 40.
Agora sobre o enredo: seguiu mais o livro que os demais, abordando as motivações do cerco de la Rochelle, bem como a questão dos ferretes de diamantes (nada mais é que um colar com pendentes desmontáveis) de Ana da Áustria, o resgate da jóia na Inglaterra... houve um esforço e trazer ao enredo um pouco mais de Dumas do que a criatividade alheia.
E o melhor: não foi preciso repetir cinquenta vezes a frase "Um por todos, todos por um!" para afirmar a obra, uma só vez bastou, exatamente como o livro. Sim, isso me alegrou.
Enfim, vale a pena assistir? Com certeza! O filme carrega a atmosfera de Dumas, e traz a história com o olhar francês, além de ter os personagens e a narrativa mais relacionados com o livro. Confiram enquanto está no cinema, e aconselho assistir legendado.
E esperemos a segunda parte "Os Três Mosqueteiros II - Milady" que deve ser lançado em outubro deste ano ainda!
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