Como leitora, eu sempre apreciei muitos autores, tendo aqueles que leio mais de um título do mesmo autor, tendo até mesmo uma coleção de obras em capas dura dependendo do quanto eu curto o estilo de escrita e o gênero. Dois escritores que entram nessa categoria é o francês Alexandre Dumas e o Inglês C.S.Lewis.
Comecei a gostar primeiro de Dumas, aos meus quinze anos com "Os Três Mosqueteiros", em uma versão de banca de jornal, e logo me apeguei ao estilo do autor - foi meu primeiro incentivo para descobrir que meu gênero literário favorito seria o Romance Histórico. Também foi pelas obras de Dumas que me aproximei da França e de sua história - "O Conde de Monte Cristo" e "O Colar da Rainha", por exemplo -, bem como o estilo de escrita, que me inspiraria em "A Rosa e o Florete".
Também quando estive em Paris em 2017 e 2024, tive a chance de fazer um pequeno turismo de fã literária: pude visitar o monumento a Dumas na Place du General Catroux, bem como seu túmulo no Pantheon na primeira vez, e depois, aproveitei para explorar o Chateau de Monte Cristo, o casarão que viveu após o sucesso, nos arredores de Paris, mas em uma região mais isolada da movimentada capital.
Da mesma forma, já aproveitei para ler algumas bibliografias sobre Dumas em francês, mas creio que pela maioria serem de pesquisadores franceses, há um tendencionismo quanto a falar sobre um autor importante para a literatura francesa, romanceando sua própria história com elementos mais heróicos, e ocultando aqueles que não são tão agradáveis de se saber - como o fato de Dumas ter tido mais de quatorze amantes e muitos filhos bastardos - o que o aproximaria mais de Porthos do que de D'Artgnan, se o compararmos a seus memoráveis personagens. Esse comportamento Bon vivant causaria sua falência antes de sua morte, além da perda da propriedade que tanto investiu seu dinheiro para construir com tantas referências às suas obras.
Para mim esse perfil da personalidade, do caráter de Dumas me incomodou um pouco como leitora, pois também gosto de saber quais as aspirações de vida de um autor que o inspiram na escrita dos livros, pois acredito que traços pessoais de um escritor podem sim respingar em suas obras, ele querendo ou não.
Talvez também tenha afetado a forma crítica com que Lewis se refere ao autor francês. Em seus trabalhos que li de crítica literária e dicas para autores, já peguei três vezes menção a Dumas de forma negativa. O inglês considera a obra "Os Três Mosqueteiros", bem como suas continuações, sem vivacidade além de uma obra aventureira, sem uma pesquisa profunda, por exemplo, quando os amigos saem da França e partem para Londres, sem sentir as mudanças de hábitos e cultura.
Enfim, em pontos concordo com Lewis, em outros, creio que deve ter pesado 1º a personalidade de Lewis como acadêmico e cristão, 2º sua época pós 2ªGM e 3º sua nacionalidade inglesa. Sei que como pesquisador, Lewis deve ter tentado se abster de opiniões muito pessoais, mas também como alguém que pôde passar um tempo na Europa, sei que existem rusgas que perduram além do tempo. E fazer o quê, né?
Lewis é um completo oposto de Dumas. Sua literatura vai para a Fantasia, e é um dos poucos autores que suporto nesse gênero. Não curto a pura fantasia pois preciso sentir um dos meus pés na realidade e outro na ficção. Mas gosto da sensação que Lewis me dá de poder fugir em guarda-roupa de vez em quando. Além disso, ele também explorou a ficção científica na Trilogia Cósmica (uma bela aposta de escrita com Tolkien), que me surpreendeu positivamente.
Também não posso deixar de mencionar os trabalhos acadêmicos de Lewis tanto sobre literatura e escrita, que me ajudam muitas vezes a rever minha forma de escrever e pesquisar, bem como sua visão de professor sobre o universo cristão e teológico. Como tal - autor, pesquisador e cristão - sem dúvidas Lewis me influencia e me inspira mais que Dumas. Aliás, ouso dizer que, para mim, foi um autor que me sinalizou maior maturidade tanto para ler quanto para escrever, e também me permitiu pensar que ler Fantasia está longe de ser algo infantil.
Nessa relação de constrastes eu reflito como enquanto Dumas tem obras que me fazem viajar ao passado, mas que como autor me incomoda sua personalidade pessoal, Lewis me ensina a admirar um autor também pelo seu perfil, mesmo que ele critique o outro.
Críticas entre autores sempre foi algo existente, mas acredito que permitem que leitores reflitam sobre seus gostos e também suas histórias favoritas ao ver quem está por detrás da pena. É um pouco disso que Lewis me ensinou, e talvez também tenha me feito desromantizar Dumas. Não que tenha deixado de gostar de "Os Três Mosqueteiros" depois de Lewis, mas aprendi a separar autor e obra. É uma reflexão que creio ser válida para outros livros e outros escritores, e qualquer época para nos fazer perguntar "Esse é um autor que vale a pena admirar? Ou apenas suas histórias são boas?".
Como autora, acredito que também me fez pensar sobre o legado que quero deixar além das páginas; que tipo de pessoa quero que meus leitores encontrem na rua e que adjetivos quero que usem ao falar de mim além daqueles que usam para descrever minha escrita.
Comments