Um dos primeiros contatos que tive com narrativas fantásticas foram através dos contos de fadas, como muitas crianças. Porém, eu tinha um certo fascínio por um grande (na minha perspectiva de cinco a oito anos) livro de capa dura que ficava na casa da minha avó, com versões mais próximas das originais dos contos de fadas, e não apenas dos irmãos Grimm, mas até mesmo contos russos como da Princesa Vasilissa e da Bruxa Baba Yaga. Esse livro era meu xodó, e só depois de adulta, consegui recuperá-lo do acervo da família.
Além das histórias inéditas, eu também amava as ilustrações mais clássicas e diferente da linguagem da Disney, que nos poupava daqueles contos que não dava mas adaptar de forma mais leve e mais "felizes para sempre". Por exemplo, nesse livro, tinha a versão em que as irmãs da Bela, em "A Bela e a Fera" viravam estátuas.
Também nessa mesma linha, outro livro da minha tia que eu resgatei, tinha mais um conto que eu amava e com um pingo de verdade: O Flautista de Hamelin, ou "A Flauta Mágica". Para quem não sabe, de fato, em uma época, as crianças de Hamelin, uma cidade na Alemanha, desapareceram misteriosamente, assim como as cidades da Europa sofreram com problemas de rato. Aí, juntou uma coisa com outra, e temos essa narrativa ou pouco misteriosa e macabra, que nos ensina a nunca descumprir uma promessa (para mim, esta é a lição deste conto de fadas). Tal como o livro maior, este também me conquistou pela capa dura e as ilustrações detalhadas e em estilo antigo.
Algo mais delicado, e que eu acho que deveria voltar à moda, foram as caixinhas de pequenos livros de alguns contos clássicos de Hans Christian Andersen. Creio que eram dez histórias, e as minhas favoritas eram "A Roupa Invisível do Rei" e "Os Cisnes Selvagens". Um pelo tom cômico do rei desfilando nu, acreditando estar vestido por uma roupa que apenas os inteligentes viam, e outro pela dedicação fraternal da irmã que tricotava para salvar seus irmãos transformados em cisnes. E eu adorava guardá-los na caixinha e levar na escola quando podia.
Também tive contato com meu primeiro conto de fadas asiático em um livro que adquiri em uma feira de livros da escola: O Conto da Princesa Kaguya. Além da narrativa da linda moça que desafiou candidatos a casamento, eu achei a forma de contar a história diferente das demais feitas aqui no ocidente. Não tinha uma lição de moral no final, mas algo único do folclore japonês.
Nessa mesma época, em que eu já deveria ter meus onze anos, o conto japonês "Pote Vazio" ou também chamado de "Flor da Honestidade", igualmente me chamou a atenção pelo personagem humilde e corajoso em entregar ao imperador um vaso sem flor, mas que ele se dedicou ao máximo para florescer, sem entender sua dedicação sem resultado. É uma história que creio que é valiosa até para adultos.
Estes livros foram os primeiros que li em minha infância, e que, apesar de sempre julgarem contos de fadas por lições no final das histórias, eu creio que mais que isso é o contato inicial com o poder de narrativas e personagens com que aprendemos a nos identificar, por mais irreal que sejam suas histórias. Eu fico feliz por ter a maioria desses livros da minha infância bem guardados e ainda lê-los quando sinto saudades de algo com um pouco de nostalgia.
E vocês? Quais livros e contos de fadas marcaram sua infância?
Comments