A mulher nobre da Europa do Séc XVIII deveria saber tocar piano, dependendo do seu título, falar mais de uma língua, saber ler (apesar que nem tudo deveria ser lido pelas damas) e escrever, serem discretas, obedientes, férteis, e não questionar a superioridade e autoridade do marido.
Porém, percebemos pela literatura e também por registros históricos, que nem todas seguiam a risca o manual de esposa cobiçada, ou mulher exemplar, e, especialmente na França, as mulheres agiam por trás das cortinas como bem lhe convinham. Enquanto os homens buscavam suas conquistas pela espada, as mulheres sabiam a arte da sedução e da persuasão. Não a toa que Madame de Pompadour se tornou mais conhecida que Luís XV.
As mulheres que habitavam Versalhes podia aparentar seguir os protocolos, mas como as próprias pinturas do Rococó de Fragonard demonstram, não eram tão inocentes quanto aparentavam nos salões de baile. Madame de Maintenon conquistou o coração de Luís XIV e se casou com ele de forma morganática, Marie Antoinette teve seu caso amoroso com Hanz Axel von Fersen. Rainhas ou amantes, mostravam que por poderem ser instruídas, sabiam jogar na corte e lidar com os seus corações e também os dos homens.
Le Verrou - Fragonard 1774/1778
Mas uma pergunta frequente os leitores que a gente vem responder aqui é, diante deste cenário: Guilhermina poderia ser comandante da Guarda Real?
De acordo com documentos da época (pois ainda não temos muitos livros que falem literalmente da mulher social no século XVIII disponíveis no Brasil), que anunciavam as principais decisões para a corte no ponto da Lei, as mulheres, quando não eram filhas únicas e possuíam irmãos ou parentes do sexo masculino, precisavam renunciar seus direitos como herdeiras dos bens de seus pais, assim como haviam situações caso fossem casadas e se tornassem viúvas (interessante apontar que, quando uma nobre se casava com um camponês, ela perdia seu título, mas poderia recuperá-lo após a morte do marido).
Também havia o caso de, se o pai não havia herdeiros homens, e suas filhas renunciassem, ele poderia escolher um herdeiro dentre a família para cuidar de suas posses, e também administrar o dote das filhas órfãs.
Porém, existe um fator decisivo, previsto na lei da época, que permite os benefícios que a personagem recebe durante o livro: O testamento do pai. Por não haver outros herdeiros masculinos nem parentes, e ser colocado em um testamento pelo pai , Guilhermina se torna a única herdeira do pai e dos títulos previstos no documento.
Ok, autora, mas e sua tenra idade?
Uma mulher, assim como os homens, já era considerada adulta aos 14/15 anos, de acordo com sua menarca (primeira menstruação). Napoleão se tornou tenente aos 16 anos, e jovens homens estarem no exército com pouca idade não era incomum, especialmente na nobreza. Além disso, a França tem Joana d'Arc para mostrar que idade e sexo não são barreiras para guiar um exército. E a participação de mulheres burguesas e do povo durante a Revolução veio para mostrar essa força.
Então, respondendo aos leitores:
Sim, apesar de não ser algo frequente na época, Guilhermina poderia ser comandante da Guarda Real (até mesmo porque os floretes além de ser destinados para treinos, podiam também ser usados por mulheres), pois lhe foi dado por testamento paterno, e na ausência de herdeiros homens, ela recebeu o que foi especificado no documento. Também possuía sangue nobre que a beneficiou.
algumas fontes:
Journal do Palais Royal 1700
A arte do Século XVIII - Stephen Jones
Mémoires historiques et politiques du règne de Louis XVI - Jean Louis Giraud Soulavie
Virtuosas e Perigosas - As mulheres na Revolução Francesa - Tania Machado Morin